Vacinação em gestantes contra o coronavírus ainda é muito pequena; apenas 325.344 grávidas se vacinaram até o momento
Na semana passada, veio a público que a vacinação em gestantes contra a covid ainda é muito pequena. Apenas 10,8% do total de 3 milhões de grávidas já se vacinaram, o equivalente a 325.344 grávidas. Destas, 315.642 (10,5%) receberam a primeira dose e 9.702 (3,2%) estão imunizadas também com a segunda dose. Os números foram calculados pela revista Crescer.
Vacinação em gestantes em ritmo lento
A vacinação em gestantes segue em ritmo lento. De acordo com dados do Ministério da Saúde são poucas as mães com menos riscos de contrair a covid. Além disso, a baixa adesão das grávidas ou puérperas (que tiveram bebê a menos de 45 dias) preocupa obstetras em todo o país. Sobre isso, Rossana Pulcineli, presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp), explica:
“Monitoramos as redes sociais com frequência e nossos associados recebem, diariamente, centenas de mensagens por whatsapp/e-mail. As manifestações de grávidas e puérperas evidenciam pavor e angústia. Fica claro que são alvo de campanha de contrainformação, via fake news, de grupos contrários à imunização.”
Fake News e suspensão da AstraZeneca
Além das fake news, a suspensão da vacina Astrazeneca para este grupo de mulheres no Brasil aumentou a desconfiança de várias delas, que decidiram não se imunizar.
Porém, os riscos da covid durante a gestação são bem maiores. Estudos e organizações do mundo todo garantem que os imunizantes são seguros para as grávidas e seus bebês, sendo raros os possíveis casos de reações graves.
Em São Paulo
Em 23 de abril, começou a vacinação em gestantes com comorbidades em todo o Brasil. E em maio, vários estados, como São Paulo, anunciaram a imunização de todas as gestantes, mesmo as que não tinham comorbidades.
Conforme a Secretaria de Saúde de São Paulo foram imunizadas 103 mil gestantes e puérperas no Estado, o que corresponde a 25% do total de mulheres deste grupo. No entanto, a taxa segue abaixo da porcentagem de vacinação da população geral brasileira contra a covid, que está em 30% para a primeira dose e 11% para a segunda dose.
Mortes de gestantes por covid
Em 2021, o número de gestantes e puérperas mortas em decorrência do coronavírus aumentou 111% em relação a todo 2020. A informação é do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19), com base nos relatórios do Ministério da Saúde.
Até 16 de junho de 2021, foram 14.042 casos e 1.412 (10%) mortes de gestantes e puérperas pela doença. A letalidade da covid saltou de 7% em 2020 para 17% neste ano.
Desde o começo da pandemia, uma a cada cinco gestantes e puérperas que faleceram por covid não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas.
Outros 11.785 registros com 296 mortes entre gestantes e puérperas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada podem ser também por covid, acreditam os pesquisadores.
Não há padronização de vacinação em gestantes
Por não haver uma padronização de imunização para as gestantes, cada estado está seguindo seu próprio plano de vacinação. Para a obstetra Melania Amorim, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.
“Não há uma norma nacional de vacinação de todas as gestantes e puérperas. A NT 651 /2021, que é a vigente, recomenda vacinar somente aquelas com comorbidades. Depois, o MS divulgou em sequência uma série de notas confusas e contraditórias. Então, cada Estado e, às vezes, município está fazendo do seu jeito.”
Por estas razões, afirma Melania, que “não se pode concluir que há uma baixa adesão das gestantes, quando é o sistema que se coloca contra elas. Sistema esse que deveria estar fazendo propaganda, campanha pró-vacinas e não dificultando a vida das gestantes e das puérperas”.
Médicos esclarecem dúvidas online
A baixa adesão de grávidas à vacina da covid levou a Sogep a organizar vários encontros online até o dia 28 de junho para esclarecer as dúvidas sobre os imunizantes. Ginecologistas e obstetras paulistas fizeram um mutirão para orientar e combater informações falsas. Rossana conclui:
“Diante de tal quadro, temos de reagir já. Mobilizamos nossos especialistas e faremos plantão online, uma espécie de live de emergência. Temos de trabalhar com esclarecimentos permanentes e mostrar às mulheres que vacinas só fazem bem.”
*Foto: Divulgação